A Galp desempenha um papel preponderante no sector energético em Portugal, principalmente no que diz respeito a gás fóssil e petróleo. Fazer uma apresentação adequada da Galp passa por dizer que estamos perante uma empresa com 92.52% de propriedade privada e 7.48% do estado Português. Passa por referir que detém a refinaria de petróleo em Portugal. Passa por a identificar como a maior fornecedora de gás fóssil em Portugal – contribui para 60% da oferta no mercado retalhista, sendo que 93% da oferta é garantida, em conjunto, pela Galp, Naturgy, Endesa e EDP. E também, que é proprietária de 9 dos 11 sistemas operadores de distribuição de gás, ou seja tem concessão ou licença de operação da maioria da rede de distribuição de gás em Portugal.
Para além disso, é preciso notar que a Galp apresentou lucros extraordinários de 155 M no primeiro trimestre do ano 2022, cerca de 500% superior ao mesmo trimestre do ano anterior. Portanto, em conjunto, todos estes dados, contribuem para passar uma mensagem muito clara: A Galp é fóssil e está a bloquear uma transição justa em Portugal, sendo responsável por nos levar ao caos climático.
Galp: extrativismo e colonialismo
O último relatório e contas da Galp que detalha dados sobre o aprovisionamento de gás da empresa é o de 2020 e a empresa reportava que 46% do gás que comprou nesse ano veio da Nigéria, por navio, 1% foi comprado no mercado spot [mercado diário, sem contratos de longo prazo] de GNL, 32% no mercado spot de gás natural (via gasoduto) e 21% veio da Argélia (via gasoduto).
Assim, o maior volume de importação da Galp é assegurado pelo ponto de carga de Boony Island, na Nigéria. Este local foi expropriado às comunidades locais, é altamente militarizado e violento – os protestos e a resistência local é altamente oprimida; estas comunidades foram deslocadas, sujeitas a violência física e sexual, e a terra e água que usam para alimentação foi contaminada.
Actualmente a GALP tem 2 contratos vigentes com este país africano: um iniciou-se em 2003 e vai até 2023, abrangendo o fornecimento de 0,73 milhões de toneladas por ano; o outro arrancou em 2006 e termina em 2026, para 1,42 milhões de toneladas por ano. O terminal de GNL da REN em Sines será o destino de grande parte (ou da totalidade) desse gás.
Podes descobrir mais sobre Extrativismo e colonialismo na Nigéria e Moçambique AQUI.
Relativamente ao gás proveniente da Argélia (cujo fornecedor é a argelina Sonatrach), a petrolífera tem pelo menos um contrato até 2024, ao abrigo do qual a Galp continua a comprar mil milhões de metros cúbicos por ano para entrega na Península Ibérica.
Não podemos esquecer que a GALP está presente em Cabo Delgado. A exploração de gás neste local é responsável pela expropriação de 550 famílias, pela instabilidade, militarização e violência neste local, pelo incentivo à corrupção e pela deterioração da liberdade de imprensa – dezenas de jornalistas que denunciaram a indústria do gás em Cabo Delgado foram detidos, torturados ou desapareceram de jornalistas.
A exploração de gás fóssil apresenta um padrão colonial alicerçado no racismo e violência, que se traduz na transferência de emissões e do impacto da crise climática para zonas de sacrifico recorrendo ao suborno e à força militar para a proteção dos seus lucros. Estes são crimes contra a humanidade do qual a Galp não se pode desresponsabilizar.
A Expansão energética da GALP
Para além dos contratos actuais, novos contratos foram assinados, garantindo o aprisionamento à importação de gás fóssil pelo menos até 2043.
- Um novo contrato com a Nigeria LNG Limited, em outubro do ano passado, onde se comprometeu a comprar um milhão de toneladas por ano de GNL durante os próximos 10 anos
- Um contrato de compra de um milhão de toneladas por ano de GNL à norte-americana Venture Global LNG, que começa em 2023 e tem a duração de 20 anos
A GALP tem ainda planos para investir tanto em energias renováveis com em combustíveis fósseis até 2025 e planos para duplicar a produção de petróleo e gás no Brasil, Angola e Moçambique até 2030.
Como está claro, a Galp não apresenta um plano para transição energética, quanto mais uma transição justa. Os exemplos apresentados são reveladores destas mesmo intenções de expansão energética da Galp. O encerramento da Refinaria de Matosinhos não apresenta uma transição energética nem qualquer noção de justiça social.