Não se pode ter extração de combustíveis fósseis sem zonas de sacrifício.
Não se pode ter zonas de sacrifício sem pessoas descartáveis.
Não se pode ter pessoas descartáveis sem racismo.
Gás e Gaza
Qual a ligação entre Palestina e crise climática?
O genocídio na Palestina é a derradeira expressão de um projeto colonial intimamente ligado à indústria fóssil.
A ocupação da Palestina, com a cumplicidade da comunidade internacional, esteve sempre ligada à exploração de recursos fósseis: desde a exploração de carvão no império britânico à exploração de gás pelo estado sionista. O genocídio desenrola-se numa altura em que o Estado de Israel está mais do nunca profundamente integrado na acumulação primitiva de capital fóssil.
A Palestina não será livre sem o fim dos combustíveis fósseis.
Não há justiça climática sem justiça para a Palestina.
From the river to the sea, Palestine will be free!
Nigéria, um caso de colonialismo fóssil
A maioria do GNL que é importado para Portugal é proveniente da Nigéria (53.5% em 2019). Este deve-se sobretudo a contratos de longo prazo entre a Galp e a Nigeria LNG Limited (NLNG). A Endesa e a Naturgy possuem igualmente contratos com esta empresa.
A NLNG é uma empresa produtora de GNL possuindo uma área de extração e um terminal de GNL na ilha de Bonny, no delta do rio Níger, na Nigéria. A empresa começou a operar em 1999 e é detida pela Nigerian National Petroleum Corporation (49%), Shell (25,6%), Total (15%) e Eni (10,4%).i
A construção deste complexo só foi possível através da expropriação das comunidades da Ilha Bonny, recorrendo à força militar para forçar as deslocações e travar os protestos.ii Estas comunidades foram alocadas em áreas onde não têm acesso às suas fontes tradicionais de rendimento (pesca e cultivo de certas culturas). Várias investigações denunciaram subornos na ordem de milhões de dólares pelas empresas de engenharia e construçãoiii (um consórcio entre empresas americanas, japonesas e italianas) a funcionários do governo nigeriano, para a construção e expansão destas instalações, em particular entre 1994 e 2004. Em alguns casos as empresas confessaram-se culpadas.
Passado mais de 20 anos, estas comunidades ainda não receberam nenhuma compensação, continuam sem acesso a trabalho e a violência militar contra a comunidade local continua presente. As mulheres e as raparigas viram-se forçadas ao trabalho sexual quer como meio de sobrevivência quer por violações dos trabalhadores expatriados. Estes são alguns dos impactos sociais e ecológicos que foram reportados em Novembro de 2020.iv
A poluição ambiental local – através da canalização da indústria que afecta a área de pântano de água doce, e a poluição do ar que produz chuvas ácidas – tem um impacto directo na saúde (ex: problemas renais, cancro, danos pulmonares), e é responsável pela contaminação das terras e água, ameaçando a segurança alimentar e acesso a água potável.
O governo nigeriano e as empresas acionistas da NLNG enfrentam protestos contínuos das comunidades locais afetadas, respondendo com repressão. Atualmente há planos para a expansão da área de exploração, o que implica a expropriação e destruição de mais terras.
Este não é um caso isolado. A extração de combustíveis fósseis implica zonas de sacrifício, alicerçadas no racismo e violência. As multinacionais fósseis expropriarem terras, subornarem governos e utilizarem a força militar e exércitos privados para a proteção dos seus lucros. Estas são entidades criminosas e corruptas, que colocam os interesses dos acionistas acima da vida e de qualquer valor social e ecológico.
Assinar um contrato com a Nigeria LNG Limited é apoiar ativamente a continuação do colonialismo baseado em extrativismo, racismo e expropriação.
i – https://www.nigerialng.com/the-company/Pages/Shareholders.aspx
ii – https://www.ran.org/the-understory/case-study-compilation-oil-and-gas-projects/#Nigeria_LNG
iii – https://www.upstreamonline.com/online/kbr-booked-in-nigeria-graft-case/1-1-1101798
iv – https://www.bothends.org/en/Whats-new/Publicaties/A-Just-Energy-Transition-for-Africa—Mapping-the-impacts-of-ECAs-active-in-the-energy-sector-in-Ghana-Nigeria-Togo-and-Uganda/