Artigo publicado originalmente no site do Climáximo.
Qual a ligação entre o genocídio na Palestina e a crise climática?
O genocídio na Palestina é a derradeira expressão de um projeto colonial intimamente ligado à indústria fóssil.
A ocupação da Palestina, com a cumplicidade da comunidade internacional, esteve sempre ligada à exploração de recursos fósseis: desde a exploração de carvão no império britânico à exploração de gás pelo estado sionista. O genocídio desenrola-se numa altura em que o Estado de Israel está mais do nunca profundamente integrado na acumulação primitiva de capital fóssil.
A PALESTINA NÃO SERÁ LIVRE SEM O FIM AOS FÓSSEIS
Israel era um dos poucos países do Médio Oriente sem recursos petrolíferos significativos descobertos. Há 25 anos, Israel começou a explorar gás “natural”, altura em que já sabíamos que era preciso parar os combustíveis fósseis. A invasão de Gaza por Israel, em dezembro de 2008, colocou alguns dos campos de gás palestinianos sob controlo israelita.
Atualmente o alargamento do território Israelita significa a tomada dos jazidas gigantes de gás – mais de 1 trilião de pés cúbicos – ao largo da costa palestiniana, o que significa a acumulação de dezenas, se não centenas, de milhares de milhões de dólares.
Assim, apenas três semanas após o início do massacre em Gaza, Israel anunciou 12 novas licenças de exploração de gás fóssil, com destino à Europa e envolvendo 6 empresas fósseis incluindo a BP, Eni, Chevron e a empresa petrolífera estatal do Abu Dhabi, dirigida pelo presidente da COP28, Sultan Ahmed Al Jaber. Parte destas são em águas palestinianas. O business as usual continua com o consentimento da Europa.
Em Outubro de 2023 uma das plataformas de extração, Tamar, teve parada durante algumas semanas mas rapidamente voltou ao seu funcionamento. Esta plataforma da qual a americana Chevron é uma das empresas principais envolvidas, é visível a olho nu da costa de Gaza. A outra grande plataforma é a Leviathan, cuja jazida uma “bomba de carbono” que deverá produzir cerca de 1,1 gigatoneladas de dióxido de carbono ao longo do seu ciclo de vida. Esta jazida de gás, a maior das descobertas recentes, tem 22 biliões de pés cúbicos de gás natural e estende-se ao longo da costa, desde Beirute, passando por Akka, até Gaza. Por fim é de notar que as principais jazidas de gás descobertas, Karish e Leviathan, encontram-se igualmente em águas reivindicadas pelo Líbano, sendo isto igualmente ignorado por Israel.
Esta gás extraído é depois enviado para a UE, EUA e Egito. Assim, a cooperação energética entre os Estados Unidos e Israel e a acumulação de recursos naturais por Israel são do interesse estratégico dos Estados Unidos, tendo prometido ajudar Israel em “questões de segurança regional”. Outro exemplo relevante é a Alemanha que em 2015 vendeu quatro navios de guerra a Israel para que este país pudesse defender melhor as suas plataformas de gás contra qualquer eventualidade, continuando atualmente a dar diversas formas de apoio as suas crimes. Mas como é que este gás é enviado para outros países? Ora bem, por um gasoduto que passa pelo mar da palestina, em particular de Gaza, detido (de novo) pela Chevron. Adicionalmente, há 2 novos gasodutos que pretende construir, sendo o mais conhecido o EASTMED contra o qual existe uma resistência local – lê mais sobre isso aqui.
NÃO HÁ JUSTIÇA CLIMÁTICA SEM JUSTIÇA PARA A PALESTINA
Atualmente a Palestina é uma das regiões mais vulneráveis às alterações climáticas, com temperaturas médias que já aumentaram 1,5ºC desde a era pré-industrial. Se não travarmos o colapso climático, as temperaturas vão aumentar pelo menos 4 graus o que implica ser perto de impossível viver naquela zona.
Ao mesmo tempo, à semelhança do resto do Médio Oriente, Gaza e a Cisjordânia estão a sofrer períodos de calor extremo cada vez mais longos e mais frequentes. Nesta realidade, a a ocupação de Israel no West Bank rouba e destrói o acesso à água às comunidades palestinianas, com os colonos a consumir 6 vezes mais água em plena seca. Em Gaza, atualmente, 97% da água do aquífero é imprópria para consumo humano.
O controlo e exploração de recursos fósseis são uma das principais causas de grande parte das guerras e genocídios contemporâneos, habitualmente criados ou alimentados pela indústria fóssil. Não há justiça climática sem o fim de todo o colonialismo fóssil tal como o fim das ocupações militares de subjugação, opressão e exploração de povos e territórios.
From the river to the sea, Palestine will be free!
Mais recursos:
- BDS https://bdsmovement.net/siemens-and-chevron-stop-fueling-apartheid-and-climate-disaster
- PENGON/Friends of the Earth Palestine https://stopthewall.org/resources/simply-unsustainable-eu-s-energy-projects-israel/
- Stop the wall: https://stopthewall.org/2022/10/13/unite-against-walls-of-climate-colonialism/
- Gasoduto EastMed: https://stopeastmed.org/briefing-en/
- Gastivists sobre palestina e gás: https://gastivists.org/peace-is-fossil-free/