Foram meses de preparação, de assembleias abertas em Lisboa, no Porto e na Bajouca, reuniões de voluntários, eventos benefit, orçamentos, convites a oradores e artistas, websites, textos, distribuição de flyers, afixação de cartazes, organização do programa, candidaturas a financiamento, planos A, B e Z, muita colaboração com a fantástica ABAD. Foi mesmo muito trabalho e esforço de muita gente, mas ainda maior dedicação à luta que fizeram acontecer o primeiro acampamento de acção climática em Portugal, o Camp-in-Gás. O resultado esteve à vista, de 17 a 21 de Julho, na Bajouca.

Muitas tendas montadas no lindíssimo parque de merendas da ABAD, com direito a ribeira, moinho, muito verde e cheiro a pinhal. Muitas palestras, oficinas, música, poesia, artivismo e até um espaço e programa inteiramente pensados para as crianças. A comida deliciosa, nutritiva, vegana e com produtos locais. Muitos voluntários sempre que se pedia ajuda, fosse para limpar as casas-de-banho, ajudar na cozinha ou qualquer outra tarefa. Um espaço verdadeiramente inclusivo e seguro para todas. Comunhão de ideais, espírito combativo, muita aprendizagem e socialização.

Os processos deliberativos abertos, os plenários diários e os plenários de delegados de acção espelham a forma participativa que a democracia deve tomar. Reuniões diárias da coordenação (com direito a uns brindes pelo meio) e das equipas incansáveis. Muito cansaço e alguma exaustão, frustrações, ansiedade e uma extraordinária capacidade de improvisação para ultrapassar os imprevistos não impediram, antes reforçaram, o incrível espírito de camaradagem, selado com muitos abraços sinceros.

Mais de duzentos participantes de todas as idades, um pouco de toda a Europa (e não só!), e outros tantos habitantes locais uniram-se para uma grandiosa manifestação contra a exploração de gás fóssil e pela justiça climática, sem precedentes na Bajouca.

A primeira acção de desobediência civil em massa pela justiça climática do país levou mais de uma centena de activistas a invadir pacificamente o terreno da Australis Oil&Gas, onde está previsto ocorrer um dos dois furos para prospecção e exploração de gás fóssil, concessionados dias antes das eleições legislativas de 2015. No local foi realizada uma performance artivista e foram plantadas cerca de oitenta árvores de espécies autóctones (carvalhos, azinheiras e pinheiros mansos), que a população da Bajouca se comprometeu a regar e cuidar. E o nosso compromisso é regressar à Bajouca para, lado a lado, impedir o furo com os nossos corpos, se a tanto chegar. Que não restem dúvidas: vamos bloquear estradas, parar as máquinas e fazer o que for necessário, mas não vamos permitir mais explorações de combustíveis fósseis, nem na Bajouca, nem em qualquer outro lugar.

Do acampamento saíram dezenas de pessoas que nunca antes tinham participado de uma acção de desobediência civil motivadas e com ferramentas tácticas, como a formação em acção directa não violenta, para continuar a luta pela justiça climática, com mais força, mais empoderadas e mais convictas de que vencer é a única opção.

No final do Camp, a palavra mais ouvida foi “incrível”. Foi realmente incrível, bonito e importante. Mas foi só um pequeno primeiro passo. Nos meses que se avizinham, a escalada de mobilização a nível ibérico, europeu e mundial será um facto. Não vamos esmorecer. A semana de 20 a 27 de Setembro irá marcar o arranque de uma onda imparável de actos de rebelião. Até dia 26 irão suceder-se diversas acções de desobediência civil, exigindo acção política imediata no sentido de travar a crise climática e ecológica. No dia 27 de Setembro dar-se-á a primeira Greve Climática Global, com apoio de várias organizações da sociedade civil e sindicatos, em que todos os cidadãos estão convocados a juntar-se pela justiça climática. A partir de 7 de Outubro, esperam-se novas semanas de rebelião, com cada vez mais pessoas e acções mais fortes e mais disruptivas, e não se prevêm tréguas até a luta ser ganha de forma justa.

 
 

Fonte: climaximo.pt

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