Mil pessoas marcharam no sábado, 12 Novembro, em Lisboa com a coligação contra o fracasso climático. Gritámos “Mudar o sistema, não o clima”, “Petróleo, gás, carvão; deixa-os no chão” e “Somos a natureza em auto-defesa.”
A Campanha Gás é Andar para Trás esteve presente e lançou “Parar o Gás!” como próximo passo!
Durante a Manifestação houve pausas e diversos discursos. Aqui partilhamos o discurso de uma das activista da campanha.
As empresas fósseis conduziram-nos à crise climática e à crise social actual.
Este ano, os preços de gás subiram brutalmente. Devem notar isso nos preços de tudo: energia, comida, habitação. O aumento do NOSSO custo de vida tem uma só origem: os lucros das empresas fósseis.
Até a Agência Internacional de Energia refere taxativamente: “Os altos preços da energia estão a causar uma enorme transferência de riqueza dos consumidores para os produtores, para níveis similares aos de 2014 no caso do petróleo, mas totalmente sem precedentes no caso do gás natural. Os preços altos dos combustíveis são responsáveis por 90% do aumento dos custos médios da geração de eletricidade a nível, global, com o gás natural à cabeça, a ser responsável por mais de 50% do aumento.”.
Em Portugal, a Galp somou lucros recorde, com um aumento de mais de 608 milhões de euros relativamente ao mesmo período no ano passado. As maiores petrolíferas do mundo tem lucros recorde, ao mesmo tempo que há cada vez mais pessoas em pobreza. É escandaloso e inaceitável!
Os preços da energia já estavam a subir antes da invasão Ucrânia pela Rússia. Com o medo de falta de gás provocado por esta guerra, as empresas surfaram nesta oportunidade e dispararam os preços do gás, aumentando brutalmente os seus lucros. O preço de tudo continua a aumentar. Da energia. Da comida, Da habitação.
Face à necessidade da Europa ser independente do gás da Rússia, em plena crise climática, o que é os governos e empresas escolheram fazer?
Gostaria de vos dizer que foram sensatos e que aceleram a transição para energias renováveis, o plano anti-guerra e que garante segurança energética e soberania energética. Porém, isso não é verdade.
A verdade é que desde o início desta guerra que aconteceram mais de 100 reuniões entre a indústria de combustíveis fósseis e líderes da Comissão Europeia – isso é uma reunião a cada dois dias!
A verdade é que os governos querem passar de importar gás Russo para importar gás da Arábia Saudita e do Qatar. Isto é, tiram-nos da mão de um regime autoritário para nos por na mão de outro.
A verdade é aproveitaram este momento de crises para dar apoio incondicional a investimentos em centenas de novas infraestruturas de gás fóssil! Isto é o mesmo que atirar gás para uma casa que já está a arder.
Em Portugal, o governo quer expandir o Porto de Gás em Sines.
Em Portugal, o governo quer construir um novo gasoduto que conecta Portugal a Espanha, quando nós já temos 2 gasodutos a fazer esta conexão.
O vício em gás está a matar-nos.
As empresas fósseis são as responsáveis pela crise climática e todas as mortes causadas por esta. São as responsáveis pela expropriação de milhares de comunidades, pela violência e morte de milhares de pessoas que resistem à exploração de gás fóssil. São responsáveis pela continuação do colonialismo. São responsáveis pelo aumento do custo de vida que leva milhares de pessoas à pobreza. São responsáveis por bloquearem uma transição justa e real. E os governos europeus, em plena crise climática, escolhem apoiar estes crimes.
O capitalismo transformou a energia em mais uma forma de lucrar. Mas a energia tem de ser um serviço básico incondicional! A energia tem de ser 100% renovável, pública e gratuita. A energia tem de ser acessível a todas as pessoas. Enquanto gás existir, nada disto será possível, porque a indústria fóssil não deixa.
Sabemos que temos uma tarefa à nossa frente. É preciso travar a crise climática. Não há super heróis. Não podemos esperar que aqueles que cometem crimes contra a humanidade ou que apoiam este crises, vão ser aqueles que nos vão salvar.
Por isso, cabe a mim e a ti.
Hoje venho dizer-te que não estás louca. Está mesmo tudo lixado.
Hoje venho dizer-te que o futuro não está predistinado. Que a mudança que vem, não precisa de ser o fim do mundo.
Hoje venho dizer-te que a história está a ser escrita agora. Que o que vai se contado no futuro, está nas nossas mãos. Aqui e agora.
Hoje venho dizer-te que o que vai acabar é a Era dos Fósseis. E cabe a nós garantir que ela acaba.
Hoje venho dizer-te que tu és precisa. Que precisamos de agir de novas formas.
Hoje venho dizer-te que também estou assustada, mas que sei que temos a coragem e a força para mudar tudo.
Hoje venho dizer-te que cabe a mim e a ti Parar o Gás.
NÓS VAMOS PARAR O GÁS!
Outros Discursos aconteceram. Podes ler tudo AQUI.
A marcha acabou no Liceu Camões, onde a ocupação pelos alunos continua com força.
Ação “Fora Costa e Silva”
No início do percurso, dezenas de ativistas invadiram um edifício onde o Ministro da Economia António Costa e Silva esteve como orador num evento. O movimento “Fim ao Fóssil – Ocupa”, que começou a semana com seis ocupações nas escolas e universidades, exige a demissão do ministro que antes deste cargo público era o CEO da empresa petrolífera Partex. A agenda do ministro inclui novos furos de petróleo e novos furos de gás fóssil.
Assembleia “Unir Contra o Fracasso Climático”
A coligação “Unir contra o Fracasso Climático” convoca uma assembleia aberta no fim da quinzena, no dia 19 de Novembro, às 14h00, no Disgraça (Rua da Penha de França 217B, Lisboa), para discutir os próximos passos do movimento pela justiça climática.
Fotos: Hugo Paz, Teresa Santos