Ativistas do Climáximo juntaram-se a milhares de ativistas de toda a Europa, para bloquear infraestrutura fóssil no norte da Alemanha.
Estivemos presentes no System Change Camp, um acampamento de ação em Hamburgo, com o envolvimento de mais de 40 organizações e coletivos, tais como Ende Gelände, o próprio Climaximo, FFF Hamburgo, Extinction Rebellion, Animal Rebellion, etc.
O objetivo deste acampamento é lutar por uma mudança sistémica, em direção a uma alternativa anticapitalista, que coloque a vida no centro, em vez do lucro. O Climáximo participou em sessões de formação e discussão e teve um envolvimento grande na ação principal, dentro da estrutura da Ende Gelände, uma aliança de pessoas que vem desde a luta anti-nuclear e anti-carvão, envolvendo grandes organizações que lutam pelo meio ambiente, grupos de esquerda e várias outras campanhas e lutas próximas. Apesar de o seu grande foco durante anos ter sido o carvão, recentemente expandiram a sua luta também ao gás fóssil.
10 de Agosto (quarta-feira)
O primeiro dia do System Change Camp, começou com mais de 1000 pessoas em protesto no centro de Hamburgo contra a construção de 12 terminais GNL (Gás [fóssil] “Natural” Liquefeito) no porto de Hamburgo, que avança com o pretexto de ser uma resposta à guerra na Ucrânia e a procura de alternativas ao gás russo. A exploração deste combustível fóssil é baseada na deslocação de povos indígenas, destruição de ecossistemas e emissão de metano. Oradoras indígenas deram voz contra a pilhagem feita por corporações fósseis, que destroem a sustentabilidade destes povos.
11 de Agosto (quinta-feira)
O dia seguinte foi preenchido com várias formações e treinos, tendo algumas ativistas do Climaximo participado como oradoras em algumas sessões.
Perto da hora de almoço, participámos na sessão Global System Change Now! com a facilitação de ativistas do Climaximo. Esta sessão teve como premissa já estarmos em crise climática e o sistema manter-se intocável. O movimento pela justiça climática tem, em grande parte, usado receitas que já foram provadas como falhadas no passado. Tentámos explorar que alterações de pensamento e crenças tem o movimento de fazer, para termos uma mudança real do sistema. Com a presença de cerca de 20 pessoas, numa tenda que não comportava muito mais, foram discutidas várias abordagens e estratégias possíveis. A discussão final teve como objetivo pensar fora da caixa, em como atingir objetivos mais pequenos e imediatos e no objetivo maior, nas forças e fraquezas tanto do sistema como do próprio movimento. As discussões foram bastante interessantes e participativas, e no geral as pessoas começaram a alterar um pouco o seu ponto de vista. Como exemplo, uma participante começou por propor a criação de uma sociedade alternativa, lado a lado com a atual, onde um dos grandes objetivos finais seria a abolição do dinheiro, tendo depois começado a refletir, com alguma sugestão, sobre a necessidade de também existirem grupos que efetuam disrupção mais avançada e que afetam concretamente a ação de uma empresa em determinado local (por exemplo numa determinada zona aquela empresa não consegue atuar devido a prejuízos continuados).
No final do dia tivémos também a participação de uma ativista numa sessão sobre diversas lutas contra o gás fóssil a nível global (Global perspectives on the fight against fossil fuels). Além da nossa ativista, estiveram também presentes no painel uma pessoa do Texas, uma pessoa da Colômbia e uma pessoa da Alemanha, além de cerca de 100 pessoas na audiência. No decorrer da sessão foram abordadas as diferentes táticas usadas em cada contexto, bem como a importância do internacionalismo e da necessidade de uma coordenação global. Mesmo nos contextos locais, é sempre necessário existir uma perspetiva global e temos de ter em conta o impacto que as nossas ações podem ter no resto do planeta. Um ponto bastante importante que foi referido nesta sessão, foi o facto de que algumas pessoas, nomeadamente os europeus, estão a baixar os braços, desistindo da luta, pensando que já não vale a pena e que já não há muito a fazer. Contudo, e como foi referido, assumir a derrota é algo que só é permitido a pessoas que vivem em locais privilegiados. Como contraponto a este espírito de perda de esperança, foram enunciadas as vitórias que tivemos em Portugal, e a luta que fizemos na Bajouca.
12 de Agosto (sexta-feira)
Tal como no dia anterior, este dia foi este recheado de formações e preparação para as grandes ações dos dias seguintes. Esta ação, na verdade, iniciou-se no dia 12, com a participação do dedo Verde no bloqueio da construção do terminal LNG em Wilhelmshaven. A porta-voz Luka Scott, de Ende Gelände, explicou que “A crise climática está a aproximar-se do seu pico. Mas em vez de finalmente serem abandonados os combustíveis fósseis, biliões estão a ser investidos em novos terminais de LNG e a importação de gás mantida até 2043. Nós vamos definitivamente opor-nos contra este retrocesso e prevenir a construção de terminais LNG”.
Esteban Servat, ativista da Argentina, acrescentou que “O maior produtor de gás e petróleo da Alemanha (Wintershall DEA) tem explorado infraestruturas de fracking na Argentina há anos, envenenando rios, destruíndo habitates e ignorado direitos humanos. É tempo de ligar as lutas do Sul Global (…) e tomar ações conjuntas contra a destruição do planeta por corporações multinacionais”
13 de Agosto (sábado)
O grande dia de ações iniciou-se de madrugada, onde cerca de 2000 ativistas partiram do acampamento em manifestação, pelas 8 da manhã. Foram anunciadas ações de desobediência civil em massa contra a expansão da infraestrutura fóssil e o sistema económico neocolonial. A indústria fóssil é quem beneficia com a crise climática. Enquanto a subida dos preços e inflação fóssil ameaça de pobreza a grande maioria da população, esta indústria regista lucros bilionários, revelando que não estamos numa crise de energia, mas numa crise de distribuição capitalista.
A globalização da resistência a estes atentados contra a vida, congregou várias ativistas internacionais nesta ação massiva. Os 3 dedos de ação seguiram em direção aos seus objetivos. O dedo Dourado, com cerca de 400 pessoas, bloqueou por várias horas o seu alvo perto do porto de Hamburgo. Os dedos Lilás e Rosa seguiram em direção aos seus próprios alvos. A comitiva do Climaximo e o seu grupo de afinidade, fizeram parte do dedo Lilás e tiveram um papel importante no sucesso do bloqueio da ponte Kattwyk, na central elétrica de Moorburg. Ao mesmo tempo, o dedo Rosa esteve na linha férrea a bloquear o tráfego de mercadorias.
Sendo a polícia um braço do capitalismo que protege o status quo, a reação foi violenta. Conseguimos uma interrupção neste sistema explorador e resistimos pacificamente às agressões da polícia. Gás pimenta, canhões de água, impedimento de equipas médicas e media de chegarem às ativistas, negação da ingestão de água por várias horas e a violência física mais primária, não nos desviaram do nosso objetivo. Várias ativistas feridas e hospitalizadas, nenhuma com gravidade, não nos impediram de atingir o objectivo. Conseguimos interromper o tráfego de mercadorias de todo o porto de Hamburgo com bloqueios.
14 de Agosto (domingo)
O acampamento terminou com um plenário final, que incluiu as respetivas avaliações e seguiu com a celebração do sucesso de uma semana de ações disruptivas com base no System Change Camp e onde participámos em solidariedade ativista com Ende Gelände.
Continuaremos nesta luta internacionalista e é um orgulho continuarmos a fazer parte deste grito comum:
Auf geht’s! Ab geht’s! Ende Gelände!